28 janeiro 2015

Amor no arpoador

Noite de verão
Um luar
As expressões culturais

Do morro ao alto escalão
Os negros a dançar
E você a criar sarais

Não aprendi poesia
Nem suas regras
Nem suas rimas

Mas aprendi num dia
Sobre você, suas fantasias
Seus poemas e alegrias

A descoberta no arpoador
As peripécias na Urca
O sexo em frente ao Cristo

As conversas sobre a dor
A nudez: sem burca
E a intimidade disto

Do Paraná a Bahia
Viajo ao Rio
Caótica paz

Não sei se voltaria
Mas por um fio
Fico na esperança que você me trás

Sem regras
Sem boas rimas
Eu continuo...

Escrevo nas linhas
Você poetiza
Nós no nosso rumo.

(Lolo Dantas)

28 de janeiro de 2015.

19 janeiro 2015

Tempo próprio

Um livro por acaso veio parar em minhas mãos, era de um autor que muito apreciava, me sentia atraída imediatamente.
Comecei a lê-lo e a história do personagem, de alguma forma me aproximava dos conflitos e crises que passava em minha vida pessoal e aquilo me fez refletir ainda mais, ao ponto de que não poderia mais prolongar uma decisão.
Depois de tomá-la me permiti ser mais leve e aproveitar um tempo sem responsabilidades, apreciar a beleza dos dias por ela mesma, me interessar mais pelas pessoas e pelo o universo que cada uma delas nos apresenta, e por fim, me ligar mais as formas de demonstrações artísticas: ouvir mais músicas, ler e escrever literaturas, apreciar imagens e filmes...
Percebi o poder da leitura novamente... Havia me esquecido o quanto era maravilhoso mergulhar nos livros de literatura e deixar fluir a imaginação, construindo imagens e sentimentos através das descrições lidas, criando sentimentos pelos personagens, pelos lugares e por vezes se reconhecer ou se sentir provocada à refletir sua própria vida, suas histórias e os personagens reais que a constroem.
            Tenho um tempo próprio de realizar minhas leituras, é como se pra ler eu necessitasse de inspiração, da mesma forma que produzir qualquer arte nos necessita. A leitura me exige um determinado estado de espírito e de minha alma e isso me torna, por mais tempo presa a um livro, do que a maioria das pessoas. Cada página a imaginação percorre as linhas, e sorrisos, choros e caretas desenham-se no meu rosto.
            O mais difícil, desde adolescente são os finais dos livros. Já perdi as contas de quantos não terminei, restavam pouquíssimas páginas e eu deixava por assim ser. Não compreendo ao certo porque o fazia talvez medo de me decepcionar com o fim ou por puro apego. Apegada, por vezes às histórias e personagens e agora, num momento de transição de minha vida pessoal, onde me restam mais dúvidas do que certezas, onde as responsabilidades são só anseios e desejos, pois não existe nada concreto a ponto de me trazê-las, criei um círculo de amizades que condiz com outro período e tudo isso me aproxima, de alguma forma, a adolescência novamente e me lembro do quanto a arte foi presente nela e distante na fase que veio a seguir.
            Busco de forma um pouco confusa recuperar a poesia que transformava minha vida, é confuso mas um tanto apaixonado: tenho visto a vida com cores mais vibrantes e reparado nos detalhes, construído sensações em mim das sensações do mundo, me percebendo parte dos lugares por onde passo e transformando o acaso para além da coincidência, buscando compreendê-lo de forma mais poética, despertando em mim um auto interesse, sentindo prazer nas minhas experiências e curiosidade em saber o que vem a seguir, na minha própria vida.
            A literatura tem um poder mágico, a arte de uma forma geral o tem, tanto quanto os amigos e as pessoas que amamos, pois com arte nunca estamos sozinhos, são universos que saltam aos nossos olhos e/ou ouvidos.

            Talvez falar da arte soe tão clichê quanto de [des]amor, mas acho que assim o é, porque a arte e o amor nunca andam distantes... Só que isso, já é outra história!

26 setembro 2014

Um dia sem se falar é estranho, dá saudade.

No meio de tantas pessoas, ostentação e futilidade estava lá: com um cachecol bonito – um verdadeiro modelo da nova coleção outono/inverno.
            As conversas fluíram em forma de um jogo de perguntas e respostas! E o tempo passou que nem se deram conta.
            Um dia bem frio, um tanto úmido, uma noite agradável com teatro, música, amigos dela, ela – ele.
            As demais conversas, os desabafos, os problemas, a solidão, a insegurança, a confusão e um no outro se apoiavam e seguiam.
            Um vinho, balas fini, um filme – era Caetano na trilha sonora: Um choro. Mais do que de repente, ela se sentia segura e ele ficou ali, do seu lado. Ela chorou a solidão, as crises, os medos da vida, do seu futuro, do que iria acontecer e por um lado se sentia bem, por ter alguém como o modelo da nova coleção outono/inverno, o jogador de perguntas e respostas, o músico, professor, o companheiro de tantas conversas, risadas e desabafos. Ele já era tanta coisa pra ela que ela já nem sabia como defini-lo e só o era, assim... olhando pela janela os prédios, a rua, as pessoas indo e vindo...
            Não há nada melhor do que chorar ao lado de quem confia. Não há nada melhor do que não ser julgada e sentir uma confortável felicidade em poder sofrer... O fardo é mais leve quando compartilhado. O sofrimento é menor quando se tem pra quem sofrer.
            E todas as vezes que vai ao bar que o levou, seja com quem for, é nele que ela pensa e em toda sua gentileza, garantindo um copo de vidro, arrumando sua cadeira, sorrindo pra ela.
            E todas as vezes que passa pela rua do hotel que ficaram também é nele que pensa. E nos feriados a cidade vazia, lembra-se do feriado com ele de manhã.
            Não se sabe ao certo como ele se sente, mas não deve ser muito diferente!
             

15 setembro 2014

Presente de aniversário

Comendo uma maçã, sentada no carro, o smartphone na mão, ela escreveu às redes sociais de um sinal bem ruim, enquanto abasteciam o carro pra seguir viagem:

Olá mundo! Estamos bem, vivos e alimentados! O Brasil é lindo e cheio de contradições – é como mergulhar dentro de nós mesmos e compreender porque assim somos, desde os pontos mais virtuosos até os mais frágeis. Ainda há muita pobreza, ainda há muita desigualdade e injustiça e de tudo, o que a gente mais vê é a garra e fibra desse povo que é igual a gente e de tão igual não dá vontade de ir embora a cada nova parada!
           
Viram-se numa única ocasião e se passou dois anos bem medidos ou mais... E os diálogos vez ou outra deram lugar a conversas mais longas e freqüentes. Essas conversas possibilitaram perceber que as diferenças existiam, mas as semelhanças e o reflexo de um no outro os fascinava.
Veio a vontade de se ver, de estar junto, de poder compartilhar momentos e “uma história pra contar”.
Essa vontade era tão grande quanto a sede de conhecer tudo ao redor, oportunizar novos olhares e ver a teoria na vida real, pensaram então,por que não juntar tudo isso e viver tudo de uma vez só, como uma enxurrada de informação e sentimentos?!

“Desbravar os lugares a nós mesmos... Ia ser uma experiência de conhecimento do Brasil, de conhecimento um do outro, e de autoconhecimento” disse ele em seu aniversário de 24 anos.

Planejaram a viagem, o carro, as bagagens, o destino era mais longe conforme o dinheiro desse. O objetivo era compreender o país que viviam, ir para as cidades mais afastadas e de vários estados diferentes, apreender tudo que podiam da cultura, do povo, da economia...
Ela lhe deu um caderno para ser seu diário e comprou um pra ela também. Ele levou alguns livros de sociólogos que admirava e ela alguns literários e durante a estrada liam coisas um para o outro e ouviam músicas e falavam sobre tudo.
            Cada dia percebiam algo novo e aprendiam novas técnicas pra sobreviver, economizar dinheiro e se virar... Durante a noite, compartilhavam o que tinham escrito e o que acharam dos lugares por onde passaram, das pessoas... Ele era entusiasmado e ela uma romântica... Completavam suas percepções e queriam, por fim, escrever um livro! Uma mistura de literatura com ensaio antropológico... Um quê dos dois e que falasse por eles.
            As fotos foram ficando melhores a cada clique e o domínio na direção do carro também... Ela já não se queixava do sol e o vermelho na pele foi dando lugar ao bronzeado.
            Uma noite ou outra eles se rendiam a alguns caprichos: Escolhiam uma pousada, compravam uma bebida não muito cara e no quarto viviam a única paixão particular de toda viagem. Era o momento que se dividiam, mais que o companheirismo de cada marmita rachada, de goles de água e pedaços de frutas cortados e dado a boca de quem estava na vez de dirigir... Era o momento que todos os propósitos da viagem cediam espaço para ser apenas o desejo e a vontade de ter um ao outro, de compartilhar prazeres, carícias e se tornarem cúmplices completos: amantes, enfim!
           

15 de setembro de 2014. 
Com carinho ao meu caro, 
LF.

            

13 agosto 2014

Olhos perigosos

E as olheiras pousavam sobre as coisas de forma mais lenta enquanto ela se aninhava, com o peso dos olhos e do corpo.
Os olhos se cruzaram e as mãos se encostaram e sabiam, sem precisar dizer: “não podemos”.
Longas conversas madrugada a dentro e resquícios de manhã, numa cama que não era deles, deitados dividiam o balbuciar das palavras que restavam... e o “não podemos” invadia cada canto daquele cômodo que não os pertencia e sem dizer, dizia – sentia.
Sentiram e recuaram por vezes, não se olharam, não se encostaram e se encostando, se olhando e sentindo viveram o momento de coexistência. De desejo e culpa, compartilhado.
O olhar tem um pouco de nossas almas e nossas almas carregam nossas vontades e sentimentos mais transparentes – enxergará o que não quer ver ou quer se enganar: por sua vez, os olhos carregam perigo.
E confuso como esse pedaço de texto, a culpa e o desejo se misturam, se calam, se aconchegam.
E olhos perigosos pousados nela, dão lugar a carinho, afeto que compartilha fragilidade, solidão, confusão e a frase não dita, sentida, compartilhada fica sendo uma parte em meio a tantas outras...


17 julho 2014

Sorrir sem motivo aparente

Era tudo o oposto. Tinham idéias avessas e mil e um motivos para não se gostarem.
De alguma forma ela sabia algo que ele aparentemente não havia se dado conta, mas que era inevitável: Ele a desejava.
E saber disso, pra ela, era pura vaidade, talvez fetiche, aquela coisa “shakespeariana”.
Com o tempo ele se deu conta: conflitos internos... Aceitar de que ela lhe fazia bem era muito difícil, era pra além do desejo.
E a vaidade dela, deu espaço a outro sentimento
 “Você me faz sorrir sem motivo aparente...”
E os dias difíceis o fazia ter vontade de tê-la em seus braços
“Queria te dar um abraço bem apertado agora”
E é um exercício de aceitar as diferenças, de respeitar as pessoas e descobrir o que elas tem de melhor, independente do resto, de qualquer coisa.
Reinventaram os signos, mudaram a lógica dos astros para ficar tudo a favor deles. Deixaram pra fora os conflitos e os pontos divergentes e juntos dividiam conforto, alegria e companheirismo.
E um dia os desejos e a vontade de estar junto, o bem que faziam um para o outro e os sorrisos que arrancavam que se escancarava no semblante cansado e conflituoso das rotinas conturbadas e já não dava pra fingir e nem deixar de forma tímida.
Era visceral, era uma vontade louca e a carência virou desejo; a vaidade virou vontade; e o fetiche... Talvez ainda fetiche fosse.
A distância os impedia de fazer tudo que queriam, no momento que queriam, mas a imaginação nos leva para onde a gente quer e imaginar junto é tornar o [im]possível real.


06 julho 2014

Desfrutar de sua própria companhia

O homem caminhava pela rua com um chapéu, sobretudo bege, sapatos pretos, um guarda-chuva no antebraço. No bolso na altura do peito, do sobretudo, uma caneta com câmera. No bolso esquerdo estava uma câmera muito discreta, porém de uma qualidade inquestionável, um bloco de papel anexado a uma caneta. No bolso direito tinha um canivete e um smartphone muito sofisticado.
Uma criança cutuca sua mãe e observa:
                - Olha mãe, um detetive!
                - Não fale besteiras, vamos logo. Apressou-se a mãe, olhando desatenta para o homem.
                Ele era de fato um detetive e não se preocupava nem um pouco com seu estereótipo, dizia que esse era seu melhor disfarce, ninguém iria desconfiar de alguém que realmente parecia um detetive, ao menos que você fosse uma criança.
                Mas hoje ele não ia investigar nenhum caso, ele estava indo à casa de seu amado para lhe deixar uma carta:

“Caro Gabriel.
Desde que você partiu meus dias tem sido a rotina.
Sinto falta de compartilhar os sonhos que tivemos durante a noite, de seu bom humor pela manhã e como enchia essa casa de luz e alegria com sua cantoria; enquanto eu, no meu mau humor típico tentava perder mais alguns minutos na cama, ouvindo além da música, os barulhos das coisas de cozinha onde preparava nosso café da manhã.
A tarde era sempre um misto de saudade e de vontade de te ver e de noite sempre a incerteza dos meus horários por conta do trabalho.
Sinto saudade do sexo, tudo era sempre tão intenso e ao mesmo tempo voraz, o incansável desejo de um pelo outro nos mostrava que para além do amor, existia o que a minha profissão também me ensinou, que é o tão importante: tesão.
Ser detetive sempre me fez refletir muito sobre o comportamento das pessoas e ser muito atento e perceptivo. E não me perdôo ao pensar que não me atentei a todos os sinais que me destes, de que nosso relacionamento estava em crise. E agora eu sou só aquele homem ranzinza e sozinho que você conheceu na cafeteria.
Espero que esteja bem.
Com amor, ...”

                Colocou por debaixo da porta e saiu sem rumo, andando sempre reto.
Hoje ele não observava as pessoas e não se importava em ser observado. Hoje ele apenas observava a si mesmo, e se dava cada vez mais conta, de que não se conhecia.
 Desvendar fatos e o cotidiano das pessoas tornara-se uma brincadeira de tão simples. Mas ele não sabia quem elas eram: era só analisar as ações, cumprir seu trabalho e não pensar seus sentimentos, suas razões, o que passava por suas cabeças.
                E se viu numa contradição tão grande!
Era tão simples compreender o comportamento dos outros para enfim desvelar suas ações e triunfar em seu trabalho. E seu “eu” era a si tão estranho, complexo e imprevisível que suas ações só faziam sentido porque Gabriel tomou conta de tudo; da casa; do seu dia a dia e agora que ele se foi, já não sabia se [re]construir.
 Nesse dia o detetive andou, andou, andou... e refletiu tanto e de suas incertezas, dúvidas e medos e se deu conta que há muito tempo não sentia nem mesmo esses sentimentos.
E mesmo sem saber de muitas coisas, ficou decidido que sofreria sem culpa e auto piedade. Sentiria tudo que havia de sentir.
Porque sofrer é buscar para além das ações e do que é previsível das pessoas, sofrer o levou a um patamar elevado de sua relação consigo mesmo e estar sozinho não era necessariamente ser ranzinza, estar sozinho poderia se transformar em desfrutar de sua própria companhia.