13 agosto 2014

Olhos perigosos

E as olheiras pousavam sobre as coisas de forma mais lenta enquanto ela se aninhava, com o peso dos olhos e do corpo.
Os olhos se cruzaram e as mãos se encostaram e sabiam, sem precisar dizer: “não podemos”.
Longas conversas madrugada a dentro e resquícios de manhã, numa cama que não era deles, deitados dividiam o balbuciar das palavras que restavam... e o “não podemos” invadia cada canto daquele cômodo que não os pertencia e sem dizer, dizia – sentia.
Sentiram e recuaram por vezes, não se olharam, não se encostaram e se encostando, se olhando e sentindo viveram o momento de coexistência. De desejo e culpa, compartilhado.
O olhar tem um pouco de nossas almas e nossas almas carregam nossas vontades e sentimentos mais transparentes – enxergará o que não quer ver ou quer se enganar: por sua vez, os olhos carregam perigo.
E confuso como esse pedaço de texto, a culpa e o desejo se misturam, se calam, se aconchegam.
E olhos perigosos pousados nela, dão lugar a carinho, afeto que compartilha fragilidade, solidão, confusão e a frase não dita, sentida, compartilhada fica sendo uma parte em meio a tantas outras...


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