26 setembro 2014

Um dia sem se falar é estranho, dá saudade.

No meio de tantas pessoas, ostentação e futilidade estava lá: com um cachecol bonito – um verdadeiro modelo da nova coleção outono/inverno.
            As conversas fluíram em forma de um jogo de perguntas e respostas! E o tempo passou que nem se deram conta.
            Um dia bem frio, um tanto úmido, uma noite agradável com teatro, música, amigos dela, ela – ele.
            As demais conversas, os desabafos, os problemas, a solidão, a insegurança, a confusão e um no outro se apoiavam e seguiam.
            Um vinho, balas fini, um filme – era Caetano na trilha sonora: Um choro. Mais do que de repente, ela se sentia segura e ele ficou ali, do seu lado. Ela chorou a solidão, as crises, os medos da vida, do seu futuro, do que iria acontecer e por um lado se sentia bem, por ter alguém como o modelo da nova coleção outono/inverno, o jogador de perguntas e respostas, o músico, professor, o companheiro de tantas conversas, risadas e desabafos. Ele já era tanta coisa pra ela que ela já nem sabia como defini-lo e só o era, assim... olhando pela janela os prédios, a rua, as pessoas indo e vindo...
            Não há nada melhor do que chorar ao lado de quem confia. Não há nada melhor do que não ser julgada e sentir uma confortável felicidade em poder sofrer... O fardo é mais leve quando compartilhado. O sofrimento é menor quando se tem pra quem sofrer.
            E todas as vezes que vai ao bar que o levou, seja com quem for, é nele que ela pensa e em toda sua gentileza, garantindo um copo de vidro, arrumando sua cadeira, sorrindo pra ela.
            E todas as vezes que passa pela rua do hotel que ficaram também é nele que pensa. E nos feriados a cidade vazia, lembra-se do feriado com ele de manhã.
            Não se sabe ao certo como ele se sente, mas não deve ser muito diferente!
             

15 setembro 2014

Presente de aniversário

Comendo uma maçã, sentada no carro, o smartphone na mão, ela escreveu às redes sociais de um sinal bem ruim, enquanto abasteciam o carro pra seguir viagem:

Olá mundo! Estamos bem, vivos e alimentados! O Brasil é lindo e cheio de contradições – é como mergulhar dentro de nós mesmos e compreender porque assim somos, desde os pontos mais virtuosos até os mais frágeis. Ainda há muita pobreza, ainda há muita desigualdade e injustiça e de tudo, o que a gente mais vê é a garra e fibra desse povo que é igual a gente e de tão igual não dá vontade de ir embora a cada nova parada!
           
Viram-se numa única ocasião e se passou dois anos bem medidos ou mais... E os diálogos vez ou outra deram lugar a conversas mais longas e freqüentes. Essas conversas possibilitaram perceber que as diferenças existiam, mas as semelhanças e o reflexo de um no outro os fascinava.
Veio a vontade de se ver, de estar junto, de poder compartilhar momentos e “uma história pra contar”.
Essa vontade era tão grande quanto a sede de conhecer tudo ao redor, oportunizar novos olhares e ver a teoria na vida real, pensaram então,por que não juntar tudo isso e viver tudo de uma vez só, como uma enxurrada de informação e sentimentos?!

“Desbravar os lugares a nós mesmos... Ia ser uma experiência de conhecimento do Brasil, de conhecimento um do outro, e de autoconhecimento” disse ele em seu aniversário de 24 anos.

Planejaram a viagem, o carro, as bagagens, o destino era mais longe conforme o dinheiro desse. O objetivo era compreender o país que viviam, ir para as cidades mais afastadas e de vários estados diferentes, apreender tudo que podiam da cultura, do povo, da economia...
Ela lhe deu um caderno para ser seu diário e comprou um pra ela também. Ele levou alguns livros de sociólogos que admirava e ela alguns literários e durante a estrada liam coisas um para o outro e ouviam músicas e falavam sobre tudo.
            Cada dia percebiam algo novo e aprendiam novas técnicas pra sobreviver, economizar dinheiro e se virar... Durante a noite, compartilhavam o que tinham escrito e o que acharam dos lugares por onde passaram, das pessoas... Ele era entusiasmado e ela uma romântica... Completavam suas percepções e queriam, por fim, escrever um livro! Uma mistura de literatura com ensaio antropológico... Um quê dos dois e que falasse por eles.
            As fotos foram ficando melhores a cada clique e o domínio na direção do carro também... Ela já não se queixava do sol e o vermelho na pele foi dando lugar ao bronzeado.
            Uma noite ou outra eles se rendiam a alguns caprichos: Escolhiam uma pousada, compravam uma bebida não muito cara e no quarto viviam a única paixão particular de toda viagem. Era o momento que se dividiam, mais que o companheirismo de cada marmita rachada, de goles de água e pedaços de frutas cortados e dado a boca de quem estava na vez de dirigir... Era o momento que todos os propósitos da viagem cediam espaço para ser apenas o desejo e a vontade de ter um ao outro, de compartilhar prazeres, carícias e se tornarem cúmplices completos: amantes, enfim!
           

15 de setembro de 2014. 
Com carinho ao meu caro, 
LF.