30 junho 2010

Porque Eu não sou seu Deus

Pensei que as pessoas em meio a tantas falhas podiam, também ser legais e ter atitudes nobres, apesar de muitas vezes agirem de forma que desaprovaria. Sei que sou um pouco exigente com as pessoas ao meu redor, principalmente se há sentimentos como admiração que envolva tal relação.
Admirar as pessoas é algo que se torna cada vez mais meticuloso e raro, há banalizações de certos valores, a hipocrisia, por exemplo, que posso considerar um defeito catastrófico, não que não cometamos sempre, o tempo todo; porém, quando se torna algo impiedosamente hipócrita é tão decepcionante que as reações de quem percebe tamanha incoerência de atos e ideologias, chega ao ponto de chocar, desnorteando o ser que até então apreciava o hipócrita acometido, os sentimentos de desilusão são maiores que traições e qualquer mal que possam causar de forma direta não deixariam tão confuso e misturando sentimentos ao ponto de não compreendê-los.
Parece que não estou sendo claro e muito menos objetivo no meu diálogo. Vago por pensamentos de minhas concepções e confesso que não os tive assim, numa nuance foram dias analisando e a cada nova reação que eu tinha em resposta ao que via exteriormente, de forma visível e fútil, nos trejeitos, nas frases infelizes de um ser que há pouco tempo eu considerava um companheiro, um amigo, a quem poderia depositar um certo grau de confiança e intimidade, digo “um certo grau” porque nossa amizade surgiu em alguns meses e não se conhece alguém o suficiente tão depressa, talvez nem em toda uma vida, mas as relações, sejam elas qual forem, surgem com o tempo que se dedica ao outro, que compartilha, com experiências que passamos juntos ou mesmo que vemos a pessoa passar e lidar com elas, fáceis, difíceis, grandiosas ou não e assim percebemos seus valores e crenças, suas prioridades e objetivos, as semelhanças são importantes para unir e as diferenças para crescermos juntos, sem que certas diferenças cheguem ao ponto do egoísmo sólido, egoísmo esse que constrói muros gigantescos numa falta de empatia, de interesse mútuo e um narcisismo tremendo nasce tornando uma relação unilateral, de uma via imensamente construída para um único lado, construída tanto pelo outro quanto pelo próprio ser que se contempla, que acredita piamente que nada é mais importante que seus sentimentos.
Minhas pernas tremiam, tive medo de desmaiar, tive medo de não conseguir um momento suficiente de lucidez, para que eu pudesse me ajudar, para que eu pudesse me recompor e nesse estado que me encontrava, cruelmente viraram-se as costas de seres, não tão humanos, mas ainda assim, seres que um dia pude, talvez numa insanidade, ter tido a inocência de ver valores priorizados neles, valores esses que eu priorizo e lucidamente percebo que a ilusão que tive, era apenas o meu reflexo.
A concepção de crueldade de determinadas pessoas é exatamente quando se vai contra a concepção delas, contra a vontade do que querem ouvir, de quererem ser acolhidas. A crueldade na concepção do egoísta, daquele que se prioriza a todo instante é justamente o fato de que se você discordar ou pensar em tomar atitudes opostas, você é escória, você merece nem se quer o chão que está pisando, porque Eu não sou seu Deus.
E ali buscando em mim as forças que meu corpo perdia e ainda o medo da solidão momentânea, do abandono... Chorar apavorado.
No choro abandonar qualquer resquício que possa sobrar de sentimentos avessos ou não por seres que provaram que nem só da humanidade se vive, que seres tão pouco ricos de valores, de bondade e cordialidade dividem espaços com pessoas sensíveis e virtuosas e que na coexistência que formam as diferentes concepções, encontramos uma sociedade desequilibrada.
Há diversas dúvidas que ficarão a quem ler esse relato, mas há uma única certeza em mim.
Jamais sentiria raiva, ódio ou mesmo amor e compaixão por seres desumanos, o egoísta consegue apenas a indiferença e talvez eu tenha pena, é talvez eu tenha.