15 dezembro 2009

Ao amor!


- Eu não sei como você não se tornou amiga deles antes, se bem lhe conheço você já teria o feito.
- De fato, você me conhece muito bem, mas talvez os acontecimentos fizeram com que essa amizade fosse adiada.


Não sei, eles passam uma energia diferente a mim, é como se eu visse o reflexo das nossas vidas neles, não que tenhamos tanta diferença de idade, isso é praticamente imperceptível, mas o modo como as coisas sucederam entre eles, por uma pessoa que viu de fora, como eu, trazia uma nostalgia de um tempo não tão remoto, mas tão maravilhoso quanto o tempo que estavam vivendo no início de seu relacionamento.
Praticamente acompanhei-os como uma observadora, percebia um sentimento de talvez timidez ou medo do namoro por parte dela, como você, meu amor, tinha quando começamos nosso relacionamento. Depois ele usou da mesma estratégica que eu: Um pouco de indiferença para provar que fazia diferença em sua vida.
Torço por eles, torço que sejam felizes como nós dois somos... Torço para que tenham paciência um com o outro e que nas dificuldades consigam superar e tê-las como lição, como as que passamos neste ano tão difícil que foi para mim e consequentemente foi para você.
Que a pureza dos sentimentos seja preservada durante as discussões e brigas que venham a surgir e que resgatem sempre a essência da força que o transformaram em um só, num casal tão adorável que contagia com a demonstração de reciprocidade e sinceridade no afeto.
É bom poder ter tido o prazer de conhecê-los e tirar a prova real de que eu estava certa em olhá-los com tanto carinho quanto olho nossa relação.


Um conto breve, que mais parece um relato, mas talvez por que realmente seja, apenas um relato do que sinto e do que estive pensando agora, descendo da rua de casa...
Pensei no casal que conheci, pensei em mim e no meu namorado e todos os momentos adoráveis que nossa amizade e mais tarde nosso namoro proporcionou um ao outro e como fomos fortes para superar juntos minhas doenças,todos os outros problemas que viemos a ter e hoje, somos outras pessoas: mais maduros, mais lúcidos sobre a realidade e sobre os sonhos que coexistem dentro de nós. Pensei na leveza dos dias que tenho passado, de umas férias tão diferentes de qualquer outras que tive, numa primavera que irradia e que meus sentimentos e modo de ver a minha vida e a relação dos outros me torna mais sensata, mais flexível e assim até consigo viver melhor, tendo mais tempo para apreciar as cores, os pequenos detalhes e quaisquer outras formas de vida que meus olhos possam ver...
Ao amor! Que é a forma mais bela e mais irracional, irracional pelo fato de quem nem sequer sabemos o por quê amamos, quando nos damos conta de um relacionamento, já vamos nos entrelaçando de uma forma tão natural que nos dá intimidade e já estamos sentindo diversos tipos de feições, seja fraternal, de zelo ou de vontade e desejo, e o amor torna-se parte de nós como os defeitos e nossos outros "eus " que pouco os conhecem surgem para quem queremos compartilhar de toda uma vida e até mesmo as imperfeições do outro, tornam-se amadas e já não saibamos viver sem aqueles detalhes que nos irritam, sem as atitudes que nos revoltam, porque tudo isso é o que compõem nosso companheiro e fiel amigo, amante, irmão... E tantos outros laços de união que germinam e brotam mais tarde, alimentados por todo o afeto, compaixão, paixão, preocupação, amor... Puro, simples, verdadeiro e transparente!
Que não seja efêmero e negligente e que seja aperfeiçoado e nos faça sábios diante da vida!


Dedico esse conto (relato) simples e objetivo ao "Casal UTF": Telise Roberta e Ewerton André.
E ao meu caro amigo e amante: Diego Moreira.

08 dezembro 2009

Sem título

Percebi que estava crescendo quando mamãe começou a colocar cuecas e meias do meu pai em minha gaveta. Achava graça e me sentia grande o bastante pra enfrentar o mundo inteiro, me sentia maduro por já ter o tamanho do meu pai e usar roupas íntimas de adulto.
A primeira vez que percebi a dificuldade de crescer, foi quando fiquei doente e ao invés do pediatra me ver, foi um clínico geral.
Conforme os anos passavam, tudo tornava proporções maiores e minhas prioridades de garoto viravam besteiras das quais eu já não tinha mais tempo.
Duro mesmo foi quando minha profissão deixou de ser "estudante", passei a ter horários mais rígidos e receber um dinheiro todo mês o que parecia muito bom, mas junto com ele vieram as contas, as parcelas, os juros do banco, o cartão de crédito, a segunda conta, o primeiro talão de cheque, o segundo emprego, o terceiro, o cheque especial...
Nisso tudo eu deixei de ser solteiro e tornei-me casado... com filhos.
Hoje sou um homem e tenho medo de cada passo que dou.
Inseguro sou, dependente deixei de ser e lidar com todas essas responsabilidades e atitudes que a vida nos impõem me fez ter medo de envelhecer...
Não por vaidade, pelas rugas ou pela flacidez , mas por morrer sem ter encontrado minhas razões, sem ter entendido o tempo, a vida e meus próprios objetivos, sem ter certeza se foi isso que desejei pra mim.
Frustro-me ao pensar que não me auto avaliei antes e cheguei até aqui sem entender muitas das minhas atitudes, muitos dos meus sentimentos e agora a vida me pôs contra parede, tenho uma casa, uma esposa e dois filhos que dependem do meu desempenho, dos meus sentimentos para tudo estar bem e que haja paz e felicidade em nossas vidas.
Mas nunca saberei se fui feliz antes ou se sou feliz agora, queria poder experimentar outras vidas e escolher a que mais me agrada.
Queria ter tempo para ser criança sem que as obrigações me batessem a porta, sem que os anos passassem...
Chorei ontem e choro agora como um bebê recém-nascido que sai do útero sem entender o por quê fizeram isso com ele!
Não há uma razão para essas palavras, para essas frases e não há, porque tudo torna-se racional demais sem tempo para refletir e eu só quero o incerto, a dúvida, as alternativas, a ilusão, os sonhos...

12 agosto 2009

Sonhos Concretizados

Comprei sapatos novos e fui ao encontro de meus amigos.

Havia comido ovos fritos pela manhã e sonhei com uma grande construção, onde meu falecido pai dizia-me que havia pouco tempo para a obra se concretizar e sermos felizes, ele sorria como nunca em vida o vi fazer, nem tanto brilho em seu olhar pude apreciar. Senti um certo medo e que as responsabilidades surgissem ainda mais. Perdi meu pai aos três anos e minha mãe aos 17, passei um ano de favor na casa da irmã de minha mãe, minha tia gostava muito de mim, mas seu segundo marido se incomodava bastante comigo, o que fez com que eu saísse de lá uma semana depois do aniversário que completei minha maioridade, fui obrigado a largar a faculdade que havia iniciado há alguns meses e trabalhava o dia inteiro pra pagar as contas do quarto/cozinha que passei a viver. Meus pais me deixaram uma casa boa, aluguei para um casal e filha e todo o dinheiro que ganhava com ela depositava numa poupança, tinha esperanças naquilo. O tempo foi passando e eu correndo atrás das oportunidades que não me apareciam, mas que eu tinha ilusão de encontrar, fiz amigos na metalúrgica que trabalhava e é com eles que saí, era meu aniversário de 19 anos.

Cheguei há um bar não muito longe da fábrica, onde costumávamos tomar café nos intervalos e dois deles já estavam me esperando, conversamos um pouco, eles me perguntaram da loja que eu trabalhava e eu contei que o salário era menor, mas eu ganhava uma boa comissão porque vendia bem e pelo menos iria poder retomar aos estudos porque me desgastava menos vendendo, meu terceiro amigo chegou, era o último que faltava e veio com um pacote na mão, eles haviam me comprado um livro, os três juntos e eu abri e eles entusiasmados falaram:

- A gente não entende muito de livro, se você não gostar e quiser trocar, você tem 7 dias, a gente comprou porque sabe que você gosta muito de ler!

Agradeci e depois daquela tarde de domingo agradável voltei pra casa intrigado com o livro na mão!

Era um livro de auto-ajuda, nunca havia lido um em toda a minha vida e sempre achei inútil ler sobre coisas que toda mundo já sabe e vivencia todos os dias! Que raios, que merda de livro, que vou fazer com ele?!

Aí me lembrei que poderia devolvê-lo em até 7 dias e joguei ele na poltrona da minha casa.

Acordei atrasado na segunda-feira e fui direto trabalhar e ouvi alguém dizer que domingo tinha um churrasco da turma da loja, passei a semana estudando depois do trabalho, iria prestar vestibular daqui alguns meses.

Domingo um colega da loja chegou na minha casa e disse que estava indo ao churrasco e que iria me levar com ele, não estava muito entusiasmado e pedi para ele esperar enquanto eu me arrumava, que eu queria uma carona até o shopping para trocar um livro, mas que não iria ao churrasco, o cara era chato e insistiu muito e eu fui com ele, deixei o livro no carro dele e pensei passar no shopping na volta.

Eu bebi algumas cervejas e esqueci do livro, acordei atrasado na segunda e fui correndo trabalhar, meu colega me entregou o livro dizendo que eu havia esquecido no carro dele e eu com raiva de não poder devolvê-lo acabei por demonstrar e meu colega disse:

- Calma cara, você já leu esse livro?

- Não e não tenho tempo para lê-lo ando estudando muito...

- Arruma um tempo, não é por um acaso que ele está com você ou você acha que é?

Fiquei o dia todo pensando nisso “não é por um acaso” e lembrei do sorriso e dos olhos de meu pai no sonho.

Cheguei em casa e não peguei em cadernos e apostilas, não iria estudar naquele dia, preparei um miojo e resolvi ler o tal livro que ganhei: “Sonhos concretizados”.

O primeiro capítulo chamava: Meu aniversário

- As vezes sonhamos com coisas que parecem não fazer muito sentido mas que nos causam uma insegurança e foi num dia como esse que resolvi comprar um par de sapatos novos...

Não podia estar lendo aquilo, fechei o livro e procurei me acalmar, lembrei de meu pai, dos meus sapatos novos, dos meus amigos no meu aniversário, do... “não é por um acaso”.

Deixei o livro lá jogado e continuei com minha rotina, ia do trabalho para a casa e estudava muito, dormia pouco, mas sabia que valia a pena...

Depois de algumas semanas resolvi lê-lo novamente e todas as coisas se encaixavam com os acontecimentos recentes de minha vida, e assim fui lendo um pouco (uma ou duas frases) há cada quinze dias, com medo, mas não parei. Entrei na faculdade, escolhi o mesmo curso que meu pai, fazia jornalismo, arrumei um estágio como fotógrafo e o autor do livro também, conheci uma garota maravilhosa e ela parecia tanto com a minha mãe, passamos a morar juntos, o autor do livro também foi morar com a namorada e eu passei a ser um fotografo muito consagrado e de muito prestígio, minha esposa estava grávida e tive de fazer uma viajem a África do Sul, deixei o livro na minha casa, bem guardado para que minha esposa não o visse, ela se assustaria e eu não teria como explicar tamanha coincidência em nossas vidas e após a temporada de seis meses, retornei, eu não ganhava muito dinheiro, mas fazia o que gostava, amava a vida que eu levava, cheguei a pensar que era o homem mais feliz do mundo, até que descobri que estava com uma doença muito grave, um vírus que devo ter adquirido na África e passei uma época muito difícil, minha esposa sempre me auxiliando e meu filho tinha apenas dois anos e meio quando meu corpo não agüentava mais e fiquei enfermo jogado numa cama.

Passava os dias com uma nostalgia gostosa e não conseguia ser triste mesmo adoecendo cada dia mais, eu amava tanto minha esposa e meu filho e vivi experiências maravilhosas em meu trabalho e nas viagens que ele me proporcionou, conheci pessoas incríveis e já tinha vivido como se fosse velho o suficiente e maduro para cair do pé.

Lembrei de meu pai e de como minha mãe o amou mesmo depois de morto e apesar do sofrimento que passou todos os 15 anos longe dele, nunca me contou muito sobre ele e mal sabia eu que estava tão perto de entende-lo, talvez tanto quanto ele mesmo.

Meu filho completou 3 anos na semana passada e eu terminei de ler o livro hoje de manhã, o livro foi escrito pelo assistente de meu pai na viagem que ele fez há África em 1977, esse homem virou um grande admirador de meu pai e escreveu a vida dele nesse livro, minha mãe nunca me contou e eu nunca saberei o por quê. O livro não era de auto-ajuda, era só um relato, em primeira pessoa da vida do meu pai vista pelos olhos de seu assistente, queria ter mais tempo para escrever, mas já não tenho muita força e meus dias estão contados. Espero que esse livro seja encontrado pelo meu filho e ela possa viver a vida de maneira linda e intensa, como vivemos, eu e papai, não poderei ver meu filho crescer, mas realizei todos os meus sonhos e fui muito feliz como espero que todos que leiam esse pequeno e humilde relato sejam e encontre suas histórias nos livros da vida.

05 agosto 2009

Uma produção tosca

Ninguém se importa se você dorme mal, se não vai bem de saúde ou se sua mente está em farrapos, ninguém se importa com seu dia ruim, com sua baixa qualidade de vida, com seus problemas e com sua felicidade, ninguém se importa se você pensa em se matar ou se arrumou um bom emprego, se chora com a luz apagada e abafando os soluços num travesseiro sem fronha.
Somos todos números dos quais o resto das pessoas não enxergam nenhum tipo de expectativa, de oportunidade e esperança.
Faz doze dias que não vejo o sol e há doze dias que não produzo uma sequer fagulha de alguma coisa e no meio de todo o meu ócio, consumindo minha própria compulsividade, recorro aos livros, discos, filmes, papéis e rebusco qualquer coisa, procuro ler, ouvir e ver atentamente, mas nada torna-se prazeroso e a comida tem um gosto insosso, como todas as obras que alguém custou a produzir como custaram a cozinhar e eu me faço de mal agredecido e reclamo de tudo como um velho, chato que já viveu demais e espera amargurado seu fim, nada trágico e clássico, nada comovente, é só uma regra da vida: morrer, assim... por ter vivido demais, por já ter dado o tempo de cumprir o que tinha como objetivo ou de se frustrar.
Chorei sem nem se quer saber quais eram meus motivos, bocejava de tanto tédio e fazia um drama numa incoerência, sem sentido algum.
Eu tinha o mundo nas mãos, mas não poderia alcançá-lo, tinha o que todos gostariam de ter: tempo.
Só que o tempo deixa a gente meio maluco, pensando demais e de pensar acaba se intristecendo e da tristeza faz seu dilema e se torna insociável, inadequado, intolerável até o dia que ninguém te convida para tomar um chá, para ir numa festa e sua namorada até esquece que você existe, de tão ausente que você se torna e ela não liga, não convida mais pra sair, não te namora mais e você chora porque sabe que falta algo e você também não sabe o que é de tanto tempo que não a vê!
E aí resolve relatar todas essas coisas enfames que não cabem no espaço com você, porque você o tornou pequeno demais e fica insuportável dividi-lo com quaisquer coisas que sejam...
Já estou pensando em vender esses móveis, a Televisão e alguns livros... Até a Cozinha tem muitas coisas, não preciso mais, essa louça toda suja vou jogar pela janela pra me poupar tempo e assim, posso arrumar uma desculpa para sair de casa: comprar louça nova ou comida congelada que já vem em embalagens descartáveis, mas ainda tenho de comprar talheres.
Não não, gosto de comprar louças! Poucas coisas tem me dado prazer como ouvir pratos sendo estraçalhados, vidros dos copos sendo moídos e pisoteados como um acidente...
É, vou comprar chicletes, quem sabe eu faça uma obra de arte com esses cacos e torne menos despresível o meu dia, uma produção tosca...

23 junho 2009

Cai

Eu caminhava cabisbaixo enquanto a garoa fina tornava meu dia ainda mais cinzento.
Encostei nas árvores do parque e andei descalço pela grama, não por falta de um sapato, pensava que sem ele eu poderia libertar minhas angústias, expelindo-as pelo os dedos, e recuperando da terra a energia vivaz que tanto precisava.
Andei o gramado todo, deitei na relva, fechei meus olhos e procurei a luz, não seria tolo de procura-la com os olhos cerrados se já não soubesse onde estavam: era dentro de mim que buscaria mais força, era algo lá dentro que tornaria minha vida reluzente outra vez.
Mas todo o meu tempo, só me fez perceber o quão perdido em minhas escuridões eu me encontrava, o quão insaciável a paz era em meu peito e atormentado, chorei, lágrimas comprimidas pelo tempo que me corroia na devastação de meus próprios almejos.
O tempo havia passado e eu perdendo a noção não só dele, como de espaço e de meus próprios sentimentos, já não sabia no que me transformei. O que estaria eu,fazendo largado aos insetos numa relva pública?
E do público fiz meu drama, minha vida que perdia uma razão ou a ganhava tarde demais.
Fui eu, um homem esquecido e fiz de mim um lúcido, intocável, fiz de minha fortuna uma sucessão de compras de segredos e silêncios, de mais fortuna e deixei minha eloqüência tomar jus a cada passo que eu dava.
Fiz da vida um marasmo, onde minhas únicas companheiras eram aquelas que dormiam comigo e ao amanhecer retiravam de meus bolsos sua merecida e suada recompensa, vivi sozinho, andei sozinho e na opção de assim ser, rasguei fotos, crucifiquei àqueles que acreditavam e me apoiavam, joguei pro alto minhas prioridades e só queria o sucesso, o conforto e o luxo, nada mais me importava... Nem os sonhos do passado, os amores que eu tive e a suposta nostalgia que viria.
Caí em Terra, despejado à relva percebia todos os anos que perdi corrompendo pessoas e de minha própria arapuca viro alvo nesse instante. De meus propósitos antigos viro escravo, viro servo de minhas nostalgias e subalterno da única coisa que não compunha o meu cenário por toda uma fase adulta: sentimentos.
Eu não tive uma vida, eu fui a ganância,ela como uma sede tomava todos os meus poros e fez de mim um criminoso, mais que isso, fez de mim um assassino de mim mesmo e quase aos cinqüenta, sem construir nada que não seja de concreto, sinto que perdi tempo demais, tempo que não volta e nem nunca será recuperado...
Saí da relva, calcei meus sapatos, tirei a gravata que já estava afrouxada e ao entrar em meu apartamento, abri bem a janela de minha sala de estar e senti pela última vez o vento bater em meu rosto.
Assumi a queda, pela primeira vez em tantos anos que não me via cair e cai, pela última vez, cai sentindo-me livre pela primeira vez em todos esses anos.

30 maio 2009

Eu não existo

Eu não existo numa sociedade contemporânea:
Eu sou um corpo e um rosto que desfila pelas ruas de minha rotina sem na realidade ser compreendido, tomei a minha liberdade prática e fui julgado pela audácia de andar pelos caminhos cheios de espinhos, de trocar o luxo pelo nostálgico, de amar as quedas e chorar num belo dia de sol, de ver televisão ao invés de ir à praia, de ficar em casa enquanto os outros vão à festa e de sorrir das banalidades e sempre ironizar as tragédias e ver tragédia onde aparentemente não há.
Eu caminhei pelas Avenidas mais largas pela manhã e me deparei com as cenas mais inusitadas, há muito tempo não encontrava tantos semáforos vermelhos e carros enfileirados numa longa fila onde o estresse prevalece na mente e nos espíritos de homens importantes, nem que sua importância seja apenas para o seu próprio mundo.
Mas o ponto é que eu não existo. Há dias não recebo uma ligação, uma correspondência, um toque de campainha, um “alô” na rua e eu acho que já não vivo nesse Universo, só estou correndo até a porta da saída, nem as contas insistem mais em vir e eu espero... Espero como todos os seres humanos esperam seus finais de expediente, para poder ter seu direito ao ócio, sua noite deitado ao seu leito.
E eu quero voltar à uma outra época, onde a instantaneidade só funcionava com miojo e meu estado melancólico era perfeitamente aceitável e o fato de eu ser indiferente quanto à vida de terceiros não me fazia alguém menos interessante e sem assunto.
Amei e fui amado, pensei ser compreendido, mas sou sensível demais e não caibo mais nos espaços.
Espero... Já perdi meus propósitos e continuo a esperar o inesperado, o que não sei o que é... como é e como quero, eu apenas não existo!

25 maio 2009

Minhas Orquídeas lindas

As orquídeas que ganhei chegaram pelo correio, elas vieram empacotadas e com um papelão cuidadoso para não amarrota-las.
As orquídeas que eu ganhei eram amarelas e nunca gostei de amarelo, mas nelas caiam tão bem que até me emocionei ao olhá-las.
Minhas orquídeas quase borraram sua linda cor, cor amarela e viva, quando os meus olhos insistiram em se emocionar.
Minhas Orquídeas que agora já estou chamando de minhas e as dando um nome próprio, eram as mais lindas orquídeas que um dia pude ver e tinham um vaso perfeito.
Minhas Orquídeas lindas vieram com um regador azul para eu não me esquecer que sua vivacidade estará sempre presente ao me lembrar que estão sendo sempre regadas.
Minhas Orquídeas lindas são bem mais importantes que qualquer outra flor que venha a nascer nos jardins, minhas Orquídeas lindas não ficam em minha janela, mas sim em meu quarto e todas as manhãs quando acordo eu olho para aquele amarelo e é como se o Sol estivesse me acordando e me dizendo o quão posso me sentir especial.
Minhas Orquídeas lindas não são criações de Deus, são criações de um homem, assim como eu, um ser humano que sente, que vive, que sofre e se emociona, assim como eu.
Minhas Orquídeas lindas foram criadas por um homem como eu, mas a perfeição de seu dom é tão sagrada que nenhuma crença justificaria a não ser a crença pela Arte.
Minhas Orquídeas lindas são a ponte entre o criador delas e eu, sua Nega, sua sempre crente de sua arte e sensível com a mesma.
Minhas Orquídeas lindas são mais lindas e lindas a cada amanhecer, a cada vez que as olho e lembro com saudade de meu caro e sempre amigo Nego Jorge Chueri.

20 maio 2009

Na brincadeira de ser pessoa convicta

"Eu só acho que eu penso estar certa, talvez eu concorde, mas num outro momento qualquer eu possa vir a discordar e eu também acredito que sei que estou com quase absoluta certa em concordar, mas que posso estar errada, admito... Essa é a minha opinião, tá?"

E é só isso!

É mais ou menos isso que costumo dizer e as vezes eu tenho medo, as vezes eu sei exatamente o que dizer, mas quando a voz sai é como se embaralhassem as letras e todo o meu “discurso” se torna uma oração enjoada, cansativa, onde digo digo e não sai nada mais que frases desconexas e fico sem graça, fico frustrada, mas eu não sei! Eu simplesmente não consigo... É tão mais fácil sentar em frente ao computador ou mesmo com folha e papel e transmitir tudo aquilo que eu realmente quero, penso, modo com costumo agir e viver a minha vida, as pessoas devem me ver como uma idiota e de fato eu devo parecer uma idiota, eu penso rápido demais e minha voz não acompanha meu ritmo e aí saem aquelas coisas distorcidas, fora que eu tenho um profundo medo de magoar as pessoas, eu fui uma criança muito frágil e vivo cheia de traumas até hoje por minha gagueira, pelo modo que eu falava, como eu me comportava, com as roupas que minha mãe me vestia e assim eu fico com medo de julgar qualquer ato alheio, medo de ferir outrem e medo até de me ferir, por me sentir culpada... ficar com a consciência pesada, antes de julgar alguém devemos nos julgar e perceber que temos nossas falhas, que também somos humanos e assim... eu não uso parágrafos nos meus textos porque eu prefiro assim, se eu começo a pontuar demais, trocar de linha, por muito espaço e isso e aquilo... Eu esqueço! E aí? Puf! Quando vou ver a idéia já foi, não resta mais, apesar de que assim minha mão fica doendo, tenho medo, acho que as vezes eu vou ter algum problema na mão por causa da minha velocidade ou no cérebro por pensar rápido demais... mas estou aprendendo, um dia eu chego lá, ou retardo a chegada, foi só um desabafo, eu já estou quase terminando, só queria dizer, que quando vocês pensam alguma coisa, não fique só pensando, meta a boca na botija, só não caia dentro dela, eu é que sou uma tonta... bom isso é o que eu acho, na minha humilde opinião, tá?


(huahauha só pra descontrair, gente!)

30 abril 2009

Uma Puta no Mundo

A Casa 731, não era bem uma casa, ela tinha os números de uma casa e sempre estava na rua para quem procura uma, mas ela circulava para cima e para baixo com o número de plaqueta de indicação de casa pendurada em sua traseira e quem é que fosse perguntar ao seu dono, ele diria: essa é minha casa, número 731 sem rua.

Todas as ruas eram da Casa 731, cada esquina, cada frente dos comércios, cada espaço por onde ela trilhava e inventava e desviava e recriava seus próprios caminhos, sem nunca deixar de pensar que era o lar daquele menino, ele cresceu junto dela e desde que esteve ao seu lado, nunca mais quis saber de outra paixão e as outras que surgirão, vai ser ao lado da maior!

Um dia eu estava voltando para o meu apartamento, um de concreto que fica parado como ao lar de [quase] todo mundo e o vi com a Casa 731 na minha rua, parecia apressado, há muito tempo não o via, eu tinha acabado de mudar para aquele bairro e não sabia que ele também circulava por essas bandas e comecei a me perguntar quando aquele garoto a largaria, ela já estava velha, meio enferrujada e a placa já nem dava pra enxergar direito, entrei em casa e logo esqueci do garoto e a Casa 731, eu estava ficando velho e não existia nada que eu ainda carregasse comigo, que soubesse tão bem de mim quanto eu mesmo, que dividisse quase todas as minhas histórias e me senti desamparado, me senti uma puta do mundo.

            Não tenho um companheiro de uma vida toda, sempre escondi meus sentimentos, sempre tive medo de beber por ter medo de dizer o que me arrependeria depois, por sair a conversar com estranhos, vivi quase toda minha vida sozinho, deturpei meus sonhos, chorei sobre lugares e em ocasiões diferentes e tive ao meu lado sempre alguém diferente, sempre tão inflexível, tão ególatra, sempre eu e percebi que de tão eu que fui, não tinha nem uma casa que me acompanhasse pelo resto da vida, vivia de aluguel num apartamento na Rua Alfredo de Azevedo, completamente só.

            Talvez eu compre uma bicicleta pra chamar de Casa ou um cachorro, ou seja mais fácil começar a beber...

10 abril 2009

Um monte de anseios

Esperando... Ansiosamente para tantas coisas, a gente parece que vive sempre nisso de esperar, de ver o resultado, do que disseram, o que fizeram, como ficou... Numa curiosidade, num troço aqui dentro que nos faz criar e imaginar de tantas maneiras, é como se muitas vezes o instante agora fosse aquela aflição de um futuro que depois vai ser nostálgico, os momentos mais prazerosos duram tão pouco comparado ao tempo que somos capazes de esperar por eles...

Não vejo a hora de comer chocolates, de pegar a “GAZETA DO POVO” segunda-feira, de receber a carta com um quadro que vai chegar e de tantas coisas mais e tantas coisas menos que não quero que cheguem.

Tempo que não passa ou tempo que passa rápido demais e coexistindo perdida nos períodos eu vou vivendo minhas aflições, compartilhando alguns entusiasmos e anseios e no ócio de alguns momentos: reparto, encaixo, canso, descanso, choro, rio, abuso, sinto, danço, escrevo, leio, sonho, espero, crio os verbos, elaboro novas frases, preencho o espaço e dou abraços!!

Tchau... Até a próxima, talvez lhes conte meus momentos, talvez reclame ou apenas invente alguma besteira e os faça acreditar!

02 abril 2009

Gê, eu ainda sou Humana!!!

Esse último ano do meu Ensino Médio tem sido não só desgastante como também preocupante:

São muitas exigências, são muitas responsabilidades que surgem cada dia mais e se tudo girasse em torno disso, tornariam as coisas um pouco mais simples, porém, tenho uma família, um namorado, amigos e não posso esquecer que não sou apenas um cérebro ambulante, tenho que me preocupar com meu bem-estar físico e psicológico.

            Estou dizendo tudo isso, porque há pouco estava pensando no novo projeto de Getulio Guerra com o “PrasBandas” de oficinas de Astrologia, Cinema & Vídeo, Fotografia e Música para a comunidade de bairros que compõem a periferia da cidade de Curitiba e o que isso tem de reflexão na minha vida é que foi difícil tomar uma decisão sobre o que cursaria numa universidade, pensei em várias coisas e todas elas ligadas à humanas, o que já eliminava muitas opções e facilitava minha árdua tarefa de selecionar um curso.

            Quando falamos de outros Seres Humanos, penso na responsabilidade das profissões que se relacionam ao auxílio e assistência de pessoas, pessoas não são receitas prontas, cálculos exatos, os seres humanos são totalmente imprevisíveis e complexos no mais profundo significado que a palavra possa abranger e tudo isso me deixava bastante preocupada com a decisão que por fim, vim a tomar. Até agora ainda fico, estou com os olhos lacrimejando e aflorando minhas dúvidas a respeito da responsabilidade AINDA maior do que as que eu tenho enfrentado.

            Pensar na grandiosidade de cada um, de suas idéias, personalidade, caráter, perspectiva! Que era o ponto onde queria chegar. Podemos analisar qualquer coisa que seja de modos tão diferentes, julga-los e não estarmos errados, nem eu, nem você nem o outro.

            Aqui nos meus devaneios e pensando no projeto do Getulio e "PrasBandas", refletia sobre a responsabilidade de TRANSMITIR, APRESENTAR, TRANSFORMAR, FAZER arte, a arte são como as pessoas! A responsabilidade de transmitir pontos de vista sobre arte é tamanha que me dá calafrios ao pensar no quanto eu também gostaria de estar com o “PrasBandas” nessa tarefa  complexa, mas tão gratificante.

            Complexa porque fazer arte, como quase tudo é visto por pontos diferentes: Quem cria vê de uma forma, quem reproduz ou adapta de outra, quem assiste ainda de outra e quem julga talvez de outra e dessas 4 formas ainda podem surgir 8-12-16-400-4000... que criarão uma eternidade de perspectivas, de valores agregados, de sentimentos, de idéias, desejos e isso tudo porque a Arte é tão humana como quem a produz e transmitir formas de criar, formas de “trabalhar” é como ensinar alguém a Amar! Não se ensina a amar, apenas se ama!

            Se eu pudesse dizer algo aos que farão as Oficinas, seria: Sintam cada idéia que for transmitida, não há uma receita, um padrão ideal, uma critica perfeita porque muitas vezes nem nós mesmos conseguimos transmitir o que sentimos, muito menos saberão nos compreender. E produza aquilo que você acha que deve, seja de modo rebuscado, claro, abstrato... Não importa, é o seu modo de enxergar as coisas e ninguém enxerga com seus olhos, apenas você mesmo!

            Ao PrasBandas meu todo apoio, mesmo que distante e minha total confiança do sucesso e competência de cada um de vocês. 

10 março 2009

Aquilo...

O problema que vou enfrentar é maior, as causas? Desconheço... Então? Por que...?
Era uma quarta-feira e a sensação de embaraço crescia, se formava e permanecia em mim, sem afloramentos e sem intensidade num viver que apenas existe e aquilo tudo que foi dito ontem? E antes de ontem... Também disseram e aquilo que tem sido visto?
Entender o que se passa é saber o que não sabe e não dá pra saber o que não sabe e não dá pra saber... o que estaríamos sentindo? E o fato de perder o garantido? Sofrer pelo bem... ou não saber, qual é o certo de sentir e o que alcançar e a falta, e a fome, e a dor, a sede, o voto, o leito, a devoção, o pudor, o horror, o escuro, o medo, o tempo, o provável, o prescrito, o indicio, o sucesso, o poder, o fruto, o Isso...
A sombra das besteiras, dos risos a causa disso, o isso do que foi atingido e louvor ao desconhecido.
Perda, cerque, ofenda... Atenta no subjetivo, o interesse... O impasse, não, não se mate!
Aquele emaranhado de desejos, de ódio, de paixão e o que é fato é o ato de sermos julgados, desprezados, apanhados, acolhidos, extingüidos e ofendidos...
E a revolta? E o medo? Tenso... Ofuscante... sem sucesso, com feridas, hipócrita.
Os números? Catastróficos, reflexivos...
Exageros formados por grupos de falantes e o perdão, o pagão, o culpado e o mal gerado? O aborto! A lentidão, a impaciência, a formação, o oposto...
E tudo que disse... que seja sempre dito, omitido... e sempre, sempre sentido e o nojo?

(Escrito numa quarta-feira, 05 de setembro de 2007)


* É só mais um emaranhado de idéias!