15 setembro 2014

Presente de aniversário

Comendo uma maçã, sentada no carro, o smartphone na mão, ela escreveu às redes sociais de um sinal bem ruim, enquanto abasteciam o carro pra seguir viagem:

Olá mundo! Estamos bem, vivos e alimentados! O Brasil é lindo e cheio de contradições – é como mergulhar dentro de nós mesmos e compreender porque assim somos, desde os pontos mais virtuosos até os mais frágeis. Ainda há muita pobreza, ainda há muita desigualdade e injustiça e de tudo, o que a gente mais vê é a garra e fibra desse povo que é igual a gente e de tão igual não dá vontade de ir embora a cada nova parada!
           
Viram-se numa única ocasião e se passou dois anos bem medidos ou mais... E os diálogos vez ou outra deram lugar a conversas mais longas e freqüentes. Essas conversas possibilitaram perceber que as diferenças existiam, mas as semelhanças e o reflexo de um no outro os fascinava.
Veio a vontade de se ver, de estar junto, de poder compartilhar momentos e “uma história pra contar”.
Essa vontade era tão grande quanto a sede de conhecer tudo ao redor, oportunizar novos olhares e ver a teoria na vida real, pensaram então,por que não juntar tudo isso e viver tudo de uma vez só, como uma enxurrada de informação e sentimentos?!

“Desbravar os lugares a nós mesmos... Ia ser uma experiência de conhecimento do Brasil, de conhecimento um do outro, e de autoconhecimento” disse ele em seu aniversário de 24 anos.

Planejaram a viagem, o carro, as bagagens, o destino era mais longe conforme o dinheiro desse. O objetivo era compreender o país que viviam, ir para as cidades mais afastadas e de vários estados diferentes, apreender tudo que podiam da cultura, do povo, da economia...
Ela lhe deu um caderno para ser seu diário e comprou um pra ela também. Ele levou alguns livros de sociólogos que admirava e ela alguns literários e durante a estrada liam coisas um para o outro e ouviam músicas e falavam sobre tudo.
            Cada dia percebiam algo novo e aprendiam novas técnicas pra sobreviver, economizar dinheiro e se virar... Durante a noite, compartilhavam o que tinham escrito e o que acharam dos lugares por onde passaram, das pessoas... Ele era entusiasmado e ela uma romântica... Completavam suas percepções e queriam, por fim, escrever um livro! Uma mistura de literatura com ensaio antropológico... Um quê dos dois e que falasse por eles.
            As fotos foram ficando melhores a cada clique e o domínio na direção do carro também... Ela já não se queixava do sol e o vermelho na pele foi dando lugar ao bronzeado.
            Uma noite ou outra eles se rendiam a alguns caprichos: Escolhiam uma pousada, compravam uma bebida não muito cara e no quarto viviam a única paixão particular de toda viagem. Era o momento que se dividiam, mais que o companheirismo de cada marmita rachada, de goles de água e pedaços de frutas cortados e dado a boca de quem estava na vez de dirigir... Era o momento que todos os propósitos da viagem cediam espaço para ser apenas o desejo e a vontade de ter um ao outro, de compartilhar prazeres, carícias e se tornarem cúmplices completos: amantes, enfim!
           

15 de setembro de 2014. 
Com carinho ao meu caro, 
LF.

            

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