Comendo uma maçã, sentada
no carro, o smartphone na mão, ela escreveu às redes sociais de um sinal bem
ruim, enquanto abasteciam o carro pra seguir viagem:
Olá
mundo! Estamos bem, vivos e alimentados! O Brasil é lindo e cheio de
contradições – é como mergulhar dentro de nós mesmos e compreender porque assim
somos, desde os pontos mais virtuosos até os mais frágeis. Ainda há muita
pobreza, ainda há muita desigualdade e injustiça e de tudo, o que a gente mais
vê é a garra e fibra desse povo que é igual a gente e de tão igual não dá
vontade de ir embora a cada nova parada!
Viram-se numa única
ocasião e se passou dois anos bem medidos ou mais... E os diálogos vez ou outra
deram lugar a conversas mais longas e freqüentes. Essas conversas
possibilitaram perceber que as diferenças existiam, mas as semelhanças e o
reflexo de um no outro os fascinava.
Veio a vontade de se
ver, de estar junto, de poder compartilhar momentos e “uma história pra contar”.
Essa vontade era tão
grande quanto a sede de conhecer tudo ao redor, oportunizar novos olhares e ver
a teoria na vida real, pensaram então,por que não juntar tudo isso e viver tudo
de uma vez só, como uma enxurrada de informação e sentimentos?!
“Desbravar
os lugares a nós mesmos... Ia ser uma experiência de conhecimento do Brasil, de
conhecimento um do outro, e de autoconhecimento”
disse ele em seu aniversário de 24 anos.
Planejaram a viagem, o
carro, as bagagens, o destino era mais longe conforme o dinheiro desse. O
objetivo era compreender o país que viviam, ir para as cidades mais afastadas e
de vários estados diferentes, apreender tudo que podiam da cultura, do povo, da
economia...
Ela lhe deu um caderno
para ser seu diário e comprou um pra ela também. Ele levou alguns livros de
sociólogos que admirava e ela alguns literários e durante a estrada liam coisas
um para o outro e ouviam músicas e falavam sobre tudo.
Cada
dia percebiam algo novo e aprendiam novas técnicas pra sobreviver, economizar
dinheiro e se virar... Durante a noite, compartilhavam o que tinham escrito e o
que acharam dos lugares por onde passaram, das pessoas... Ele era entusiasmado
e ela uma romântica... Completavam suas percepções e queriam, por fim, escrever
um livro! Uma mistura de literatura com ensaio antropológico... Um quê dos dois
e que falasse por eles.
As
fotos foram ficando melhores a cada clique e o domínio na direção do carro
também... Ela já não se queixava do sol e o vermelho na pele foi dando lugar ao
bronzeado.
Uma
noite ou outra eles se rendiam a alguns caprichos: Escolhiam uma pousada,
compravam uma bebida não muito cara e no quarto viviam a única paixão
particular de toda viagem. Era o momento que se dividiam, mais que o companheirismo
de cada marmita rachada, de goles de água e pedaços de frutas cortados e dado a
boca de quem estava na vez de dirigir... Era o momento que todos os propósitos da
viagem cediam espaço para ser apenas o desejo e a vontade de ter um ao outro,
de compartilhar prazeres, carícias e se tornarem cúmplices completos: amantes,
enfim!
15 de setembro de 2014.
Com carinho ao meu caro,
LF.
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