11 julho 2011

Pielonefrite

Esse desabafo foi escrito no dia 10 de julho de 2011 – Domingo. No quarto 204 do Hospital Geral da Unimed. Ele não tem nenhuma finalidade literária, ele não é bonito, ele não é interessante, é um texto cru, seco e sem cores, como as vezes são os dias de nossa vida real.

Infecção Urinária – Pielonefrite:

A infecção dos rins. A principal via é a ascendente, quando bactérias da bexiga alcançam os ureteres e conseguem subir até os rins. Isto ocorre normalmente nas cistites não tratadas ou nos casos de colonização assintomática da bexiga por bactérias. Nem todas as pessoas relatam sintomas de cistite antes do surgimento da pielonefrite.

A pielonefrite é um caso potencialmente grave, já que estamos falando da infecção de um órgão vital. É um quadro que pode ter gravidade semelhante a uma pneumonia. Se não tratado a tempo e corretamente, pode levar a sepse e morte.

A sepse ou sepsis é uma síndrome que acomete os pacientes com infecções severas. É caracterizada por um estado de inflamação que ocorre em todo o organismo, secundária a invasão da corrente sanguínea por agentes infecciosos (geralmente bactérias).

Fonte: MD. Saúde - Blog Médico para Pacientes

Nesse conto não serei nenhum personagem, eu – lírico e/ou heterônimo.

Hoje é um dia triste em minha vida. Penso em tantas coisas que passei nesse hospital e que perdi por conta dele, penso em coisas que ainda perderei, penso em como minha saúde está diretamente vinculada às fases da minha vida, as mudanças delas, as transformações e como me faz sempre enxergar a vida por outro viés.

Esse post só tem finalidade de desabafo prosseguido de uma estranha vontade de marcar esse momento da minha vida, através do texto. Ele não segue uma cronologia, ele não segue nada, ele só é guiado pelo que penso e no momento em que penso, sinto e transformo isso em palavras que se agrupam e assim formam-se orações às vezes pouco compreendidas, não estou preocupada com a estética do texto e com nada dele, só me preocupa sua essência e meus motivos são meramente narcisistas e egoístas em relação ao seu fim.

Não tenho vontade de comer; de olhar o belo dia, que insiste entrar pela janela do meu quarto do hospital; nem de levantar. Hoje é um dia que gostaria de passar dormindo, para acabar o quanto antes.

Receberia alta hoje pela manhã, o médico esteve aqui e não gostou do resultado do hemograma (taxa muito alta de leucócitos). Meu braço dói onde a agulha que me ligava ao soro ficou desde quinta-feira (07/07) até hoje pela manhã um pouco depois do médico vir aqui. Minha anatomia não é muito colaboradora das agulhas, me picaram três vezes com agulhas de calibres 20/22 até que por fim, com quatro enfermeiras em minha volta, na quarta tentativa funcionou. Essa minha última experiência no hospital, não me foi muito agradável com as agulhas e com dor, a cólica Renal na quinta estava terrível, eu lacrimejava e não conseguia me mover, devido a febre de quase 39ºC meu corpo estava mais sensível (refiro a sensível em sensibilidade, as dores se tornam mais intensa, o frio era tamanho – tremor), o que fez com que uma veia furasse na tentativa de inserir um cateter.

As coisas não são como a gente quer, alguns diriam que são como "tem de ser", "o destino quis assim". Na realidade o ceticismo é algo que me acompanha, apesar de paradoxalmente me permitir pensar em inúmeras razões mais "espirituais".

A dimensão que o hospital ganhou em minha vida, é tão absurda, que tenho a impressão que se a vida parar de me trazer até ele, eu passarei a arranjar motivos só para circular por esses corredores, sentir esse cheiro, esse ar de limpeza, de reflexão, uma coexistência de luta e fraqueza. (Uma utopia, talvez insanidade de minha parte pensar dessa forma).

Esse hospital acompanha minha trajetória há anos, e não me lembro de não ter passado por ele nas fases mais marcantes da minha vida.

As pessoas quando me perguntam se eu me arrependi de algo que fiz, eu sempre digo a elas que nunca me arrependi de nada que fiz, que todas as escolhas que tomei tinham um porquê de serem tomadas e que com certeza me proporcionaram momentos muito felizes, afinal tive a opção de não escolhe-las e não o fiz.

Perguntam-me ainda, se eu pudesse escolher entre não ter tido aquele quadro de saúde delicada em 2009 que sucedeu numa depressão e ter levado uma "vida normal", não exito em dizer que não mudaria nada do que passei: nenhuma noite mal ou não dormida, nenhuma náusea ou crise de enxaqueca, vômitos intermináveis, dores abdominais por função dos vômitos, dor, sofrimento, tristeza, pânico, crises de choros incontroláveis, insegurança, medo, dúvida, desespero, frustração, raiva, ódio, compreensão, conformismo, cansaço...

Foram meses de muita fraqueza física, mas anexo a ela de muita luta! Uma única vez tive vontade de tentar suicídio, foi a pior crise sem dúvida e não lembro de ter tido nenhuma depois daquela. Creio ter chegado ao fim, ao limite do meu estado físico e mental de desespero e retomei ao caminho da lucidez, da paz, da imunidade e por fim saúde física e mental.

O tempo é o maior aliado dos arrependimentos e do rancor. Não que o tempo o cure, mas nos dá margem para que possamos com sensatez perceber de que de nada adianta.

É impossível não passar um filme rápido de toda essa minha história com esse hospital, toda vez que aqui entro, às vezes ainda, encontro vários rostos iguais, de enfermeiros que na época sabiam meu nome e acompanhavam meu quadro, por repetidas vezes eu ter estado aqui.

Nenhum lugar me conhece de forma tão visceral como esse. Nenhum lugar já me viu nos estados mais deploráveis. No ápice de minha enfermidade. É tamanha minha vontade de sair daqui, que mais uma vez o Hospital é um paradoxo em minha vida, um sentimento de amor e ódio. Amor porque já faz parte da minha vida de uma forma que não escolhi, mas faz e de ódio por todas as frustrações e diversos outros sentimentos que ele me causa.