E as olheiras
pousavam sobre as coisas de forma mais lenta enquanto ela se aninhava, com o
peso dos olhos e do corpo.
Os olhos se
cruzaram e as mãos se encostaram e sabiam, sem precisar dizer: “não podemos”.
Longas
conversas madrugada a dentro e resquícios de manhã, numa cama que não era
deles, deitados dividiam o balbuciar das palavras que restavam... e o “não
podemos” invadia cada canto daquele cômodo que não os pertencia e sem dizer,
dizia – sentia.
Sentiram e
recuaram por vezes, não se olharam, não se encostaram e se encostando, se
olhando e sentindo viveram o momento de coexistência. De desejo e culpa,
compartilhado.
O olhar tem um
pouco de nossas almas e nossas almas carregam nossas vontades e sentimentos
mais transparentes – enxergará o que não quer ver ou quer se enganar: por sua
vez, os olhos carregam perigo.
E confuso como
esse pedaço de texto, a culpa e o desejo se misturam, se calam, se aconchegam.
E olhos
perigosos pousados nela, dão lugar a carinho, afeto que compartilha fragilidade,
solidão, confusão e a frase não dita, sentida, compartilhada fica sendo uma
parte em meio a tantas outras...